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== Resumo                            ==
 
== Resumo                            ==
  
''Introdução'' : O esfíncter urinário artificial (EUA) é o tratamento cirúrgico ''gold standard''  para incontinência urinária de esforço masculina.           
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''Introdução'' : A implantação de prótese peniana insuflável é o tratamento de terceira linha na disfunção eréctil (DE).           
  
''Objectivos'' : Avaliar os resultados da colocação de esfíncteres urinários artificiais AMS 800 no Serviço de Urologia do Centro Hospitalar de São João num período de 6 anos (janeiro 2007/dezembro 2012).           
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''Objectivo'' : Avaliar, de forma retrospectiva e comparativa, os resultados da colocação de próteses penianas insufláveis no Serviço de Urologia do Centro Hospitalar de São João num período de cinco anos (janeiro 2008/dezembro 2012).           
  
''Materiais e métodos'' : 30 doentes do sexo masculino com incontinência urinária (IU), foram submetidos a colocação de EUA AMS 800, com média de idades de 69 anos. 25 doentes tinham incontinência grave e 5 moderada. Relativamente à etiologia: secundária a prostatectomia radical (PR) em 26 doentes; IU mista (PR e hiperactividade do detrusor), 1 doente; prostatectomia por HBP, 1 doente; IU neurogénica em 2. Havia antecedentes de colocação de ''sling''  Invance prévio sem sucesso em 9 doentes; antecedentes de radioterapia prévia em 14; antecedentes de uretrotomia interna por estenose da anastomose vesico-uretral em 8. A média de seguimento no pós-operatório foi de 22,1 meses. A média de pensos/dia antes da cirurgia: 5,73.           
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''Material e métodos'' : 49 doentes foram submetidos a colocação, por abordagem penoescrotal, de prótese peniana insuflável 3 componentes no período supracitado: Titan Coloplast em 20 doentes; AMS 700 CX em 28; AMS 700 CXR num. Etiologia da disfunção eréctil: secundária a prostatectomia radical em 20 doentes; diabetes mellitus em 12; outras causas vasculogénicas (doença cardiovascular, HTA, síndrome metabólica, dislipidémia) em 11; neurogénica periférica (cirurgia colo-rectal, cistectomia radical) em 2; doença de Peyronie em 3; priapismo num. Os doentes tinham idade média de 61,3 anos e a média de seguimento no pós-operatório foi de 19,3 meses.           
  
''Resultados'' : 20 doentes (67%) estão totalmente continentes (ausência de protecção); 5 doentes (17%) melhorados ou parcialmente continentes (1-2 pensos/dia ou redução > 50% do número de pensos); 5 doentes (17%) sem melhoria (≥ 3 pensos/dia). Somando os doentes curados e melhorados, obtém-se uma taxa de sucesso global aproximada de 84%. A variação da média de pensos/dia antes e após a cirurgia (respectivamente, 5,7 e 0,8) é estatisticamente significativa (p < 0,05 - teste de Wilcoxon).           
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''Resultados'' : 43 doentes (85,7%) têm prótese funcionante sem intercorrências. A taxa de satisfação global dos doentes com prótese funcionante é de 93%; nos subgrupos de doentes com prótese Titan Colopast e AMS 700 é, respectivamente, de 88% e 95%. Ocorreram as seguintes complicações: 3 casos (6%) de falência mecânica com necessidade de revisão cirúrgica; 3 casos (6%) de infecção e 1 caso (2%) de erosão uretral combinada de infecção, todos com necessidade de remoção da prótese. Todas as complicações (infecção e falência mecânica) ocorreram nos doentes com prótese peniana Titan Colopast, ou seja, houve 35% de complicações neste subgrupo. Correlacionando as complicações por subgrupos, verificamos que existem diferenças estatisticamente significativas entre os dois tipos de prótese (p = 0,001 - teste exacto de Fisher). A mediana de seguimento pós-operatório nos dois subgrupos foi, no entanto, substancialmente diferente: 24 meses para o subgrupo da Titan Coloplast e 12 para o da AMS. Fazendo uma análise de sobrevivência através da metodologia de Kaplan-Meier, verificamos que existem diferenças estatisticamente significativas na sobrevivência livre de falência mecânica ou infecção entre os dispositivos protésicos dos dois subgrupos (p = 0,033 - teste Log Rank).           
  
Antecedentes de sling, radioterapia pélvica adjuvante e estenose da anastomose  VU tratada previamente por uretrotomia, não comprometem as taxas de continência.         
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''Conclusões'' : A prótese peniana insuflável 3 componentes é um tratamento com alta taxa de satisfação para os doentes, com uma aceitável taxa de complicações. Os nossos resultados mostram uma taxa de complicações global ligeiramente acima dos valores encontrados na literatura. Além disso, na análise comparativa por subgrupos, verifica-se, no subgrupo de doentes com prótese Titan Coloplast, uma taxa anormalmente elevada de complicações (35%), ao invés da ausência de complicações registada no subgrupo dos doentes com prótese AMS 700, sendo este facto dissonante com os demais trabalhos publicados que apontam para resultados e complicações similares entre dos dois tipos de prótese. Os motivos plausíveis para esta ocorrência poderão ser: pequena dimensão amostral; menor experiência cirúrgica aquando da colocação das próteses Titan Colopast, uma vez que na nossa série foram as primeiras a ser colocadas; tempo de seguimento bastante mais longo nas próteses Titan Colopast, com consequente maior probabilidade de complicações.           
 
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Quanto às complicações, ocorreu falência mecânica num caso (3%), infecção em 3 (10%) e erosão uretral também em 3 (10%). A taxa de re-operação (revisão ou remoção do EUA) foi de 23%.
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''Conclusões'' : O EUA é um tratamento eficaz na IUE masculina moderada a grave. As nossas taxas de sucesso e complicações são consistentes com as da literatura. Tem relevante taxa de sucesso em grupos peculiares: antecedentes de ''sling'' , RT e estenose da anastomose VU tratada previamente por uretrotomia. As principais limitações continuam a ser: a necessidade do doente ter destreza manual e nível cognitivo satisfatório para lidar com os esfíncter; apresentar uma taxa não desprezível de re-intervenção devido a complicações mecânicas e não mecânicas.           
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© 2014 Associação Portuguesa de Urologia. Publicado por Elsevier España, S.L.U. Todos os direitos reservados.
 
© 2014 Associação Portuguesa de Urologia. Publicado por Elsevier España, S.L.U. Todos os direitos reservados.
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==Abstract==
 
==Abstract==
  
''Introduction'' : The artificial urinary sphincter (AUS) is the gold standard for surgical treatment of male stress urinary incontinence.           
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''Introduction'' : Inflatable penile prosthesis implantation is the third-line treatment in erectile dysfunction (ED).           
  
''Objective'' : Evaluate the results of the artificial urinary sphincter placement of AMS 800 in the Department of Urology of São João Hospital Center in a 6-year period (January 2007/December 2012).           
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''Objective'' : To evaluate, in a retrospective and comparative analysis, the results of the placement of inflatable penile prostheses in the Department of Urology of São João Hospital Center in a five-year period (January 2008/December 2012).           
  
''Material and methods'' : 30 male patients with urinary incontinence (UI) underwent placement of AUS AMS 800 through penoscrotal approach, with an average age of 69 years. 25 patients had severe incontinence and 5 moderate. With regard to etiology, UI secondary to radical prostatectomy (RP) in 26 patients, mixed incontinence (detrusor overactivity and PR) in 1 patient; prostatectomy for BPH in 1 patient; neurogenic UI in 2. 9 patients have a prior history of unsuccessful sling Invance, 14 a prior history of external pelvic radiotherapy and 8 a prior history of internal urethrotomy for stricture of vesico-urethral anastomosis. The mean postoperative follow-up was 22.1 months. Mean pads/day before surgery: 5.73.           
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''Material and methods'' : 49 patients underwent placement of inflatable penile prosthesis 3 components through penoscrotal approach during the referred period: Coloplast Titan in 20 patients; AMS 700 CX in 28; AMS 700 CXR in one. Etiology of erectile dysfunction: secondary to radical prostatectomy in 20 patients; diabetes mellitus in 12; other vasculogenic causes (cardiovascular disease, hypertension, metabolic syndrome, dyslipidemia) in 11; peripheral neurogenic (colorectal surgery, radical cystectomy) in 2; Peyronies disease in 3; priapism in one. Patients had a mean age of 61.3 years and the mean postoperative follow-up was 19.3 months.           
  
''Results'' : 20 patients (67%) are fully continent (no protection); 5 patients (17%) partially improved or continents (1-2 pads per day or reduction of > 50% of the number of pads), 5 patients (17%) without improvement (≥ 3 pads/day). Adding cured and improved patients, we obtain an overall success rate of approximately 84%. The variation of pads/day before and after surgery (respectively 5.7 and 0.8) is statistically significant (p < 0.05 - Wilcoxon test).           
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''Results'' : 43 patients (85.7%) have functioning prosthesis without complications. The overall satisfaction rate of patients with a functioning graft is 93%; in the subgroups of patients with prosthetic Titan Colopast and AMS 700 is, respectively, 88% and 95%. Have occurred the following complications: 3 cases (6%) of mechanical failure with need for surgical revision; 3 cases (6%) of infection and 1 case (2%) of urethral erosion combined with infection, all requiring prosthesis withdrawal. All complications (infection and mechanical failure) occurred in the subgroup of patients with Titan Colopast penile prosthesis, ie, there was 35% of complication rate in this subgroup. Correlating complications by subgroups, we found that there are statistically significant differences between the two types of prosthesis (p = 0.001 - Fishers exact test). The median postoperative follow-up in both groups was, however, substantially different: 24 months for the subgroup of Titan Coloplast subgroup and 12 for the AMS. Making an analysis of survival by Kaplan- Meier methodology, we found that there are statistically significant differences in survival free of mechanical failure or infection of prosthetic devices among the two subgroups (p = 0.033 - Log Rank test).           
  
Prior history of urethral sling, adjuvant pelvic radiotherapy and anastomotic VU stricture previously treated by urethrotomy do not compromise the continence rates.
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''Conclusions'' : The implantation of 3 components inflatable penile prosthesis is a treatment with a high rate of satisfaction for patients, with an acceptable complication rate. Our results show an overall complication rate slightly above the values found in the literature. Furthermore, in comparative analysis by subgroup, the subgroup of patients with Titan Colopast prosthesis has an abnormally high rate of complications (35%), rather than the absence of complications recorded in the subgroup of patients with AMS 700 prosthesis - this fact is dissonant with other published studies that point to similar results and complications between the two types of prosthesis. The plausible reasons for this occurrence may be: small sample size; less surgical experience during the placement of the Titan Colopast prosthesis, since in our series were the first to be placed; significantly longer follow-up Titan Colopast prosthesis, with consequently greater likelihood of complications.           
 
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Regarding complications, mechanical failure occurred in one case (3%), infection in 3 (10%) and urethral erosion also in 3 (10%). The rate of re-operation (revision or removal of the AUS) was 23%.
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''Conclusions'' : The AUS is an effective treatment for moderate to severe male stress urinary incontinence. Our success rates and complications are consistent with the literature. It has relevant success rate in peculiar groups: patients with sling, RT and anastomotic VU stricture previously treated by urethrotomy. The main limitations remain: the need for the patient to have satisfactory cognitive function and manual dexterity to handle the sphincter; present a non-negligible rate of re-intervention due to mechanical and non-mechanical complications.           
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© 2014 Associação Portuguesa de Urologia. Published by Elsevier España, S.L.U. All rights reserved.
 
© 2014 Associação Portuguesa de Urologia. Published by Elsevier España, S.L.U. All rights reserved.
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==Palavras-Chave==
 
==Palavras-Chave==
  
Esfíncter urinário artificial ; Incontinência urinária ; Estudo retrospectivo
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Prótese peniana insuflável ; AMS 700 ; Titan Coloplast
  
 
==Keywords==
 
==Keywords==
  
Artificial urinary sphincter ; Urinary incontinence ; Retrospective study
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Inflatable penile prosthesis ; AMS 700 ; Titan Coloplast
  
==Introdução==
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== Introdução                       ==
  
O esfíncter urinário artificial (EUA) é o tratamento cirúrgico ''gold standard''  para incontinência urinária de esforço masculina moderada a grave.    
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A erecção peniana normal é um fenómeno neurovascular. A disfunção eréctil (DE) resulta do compromisso deste fenómeno, designadamente em doentes com factores de risco cardiovasculares (síndrome metabólica, hipercolesterolémia, obesidade, sedentarismo, tabagismo), submetidos a prostatectomia radical, presença de diabetes mellitus, causas neurogénicas múltiplas (centrais ou periféricas), etc. As opções terapêuticas actuais no tratamento da DE comportam os tratamentos farmacológicos (medicamentos orais - inibidores da PDE-5; prostaglandinas intracavernosas e intra-uretrais) e os tratamentos não farmacológicos (terapia sexual, dispositivos de erecção por vácuo, implantação de próteses penianas e cirurgia vascular peniana).
  
A maioria dos dados disponíveis sobre a sua eficácia e complicações resulta de estudos de coorte retrospectivos, praticamente não existindo estudos prospectivos randomizados devido à ausência de possibilidade de comparação com outro tratamento com as mesmas indicações.
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A implantação de prótese peniana insuflável é o tratamento de terceira linha na disfunção eréctil (DE)<sup>[[#bb0005|1.]]  ;  [[#bb0010|2.]]</sup> . Está indicada quando não se obtém resposta ao tratamento farmacológico de primeira e segunda linhas e nos doentes que preferem uma solução definitiva para o seu problema.    
  
Os resultados mostram que tem eficácia significativa, com taxas de continência superiores a 70% na maior parte dos estudos<sup>[[#bb0005|1.]] ; [[#bb0010|2.]] ; [[#bb0015|3.]] ; [[#bb0020|4.]] ; [[#bb0025|5.]] ; [[#bb0030|6.]]  ;  [[#bb0035|7.]]</sup> .     
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Estão disponíveis, actualmente, duas classes de próteses penianas: insufláveis de 2 ou 3 componentes e semi-rígidas.<sup>[[#bb0015|3.]]  ;  [[#bb0020|4.]]</sup>
  
Apresenta as seguintes vantagens: implantação reprodutível e fiável; permite o esvaziamento vesical sem necessidade de contracção do detrusor; eficácia comprovada em casos de radioterapia pélvica prévia.
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As mais frequentemente usadas, e que a maioria dos doentes prefere, são as insufláveis de 3 peças ou componentes, uma vez que são as que permitem obter erecções mais “naturais”, ou seja, maiores similitudes na alternância entre o normal estado de flacidez e erecção penianas.
  
Apresenta, porém, algumas limitações, não devendo ser utilizado nos casos em que não existe destreza manual satisfatória e função cognitiva que permite o manejo do mesmo, fraca integridade do tecido uretral ou diminuição da ''compliance''  vesical <sup>[[#bb0005|1.]]  ;  [[#bb0010|2.]]</sup> .    
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Apenas os dispositivos insufláveis de três peças apresentam um reservatório separado colocado na cavidade abdominal, permitindo a erecção através da transferência de um grande volume de líquido do reservatório para os cilindros protésicos penianos e o retorno à flacidez através da transferência inversa.
  
Outras limitações e desvantagens dizem respeito às várias complicações reconhecidas de implantação de EUA: mecânicas (falência) e não mecânicas (infecção, erosão da uretra). A taxa de complicações varia entre os 11 e 41%<sup>[[#bb0005|1.]] ; [[#bb0010|2.]] ; [[#bb0020|4.]] ; [[#bb0025|5.]] ; [[#bb0030|6.]] ; [[#bb0035|7.]]  ;  [[#bb0040|8.]]</sup>  e os estudos a longo prazo mostram uma taxa de revisão na ordem dos 16% e 28% aos 2 e 5 anos, respectivamente<sup>[[#bb0005|1.]]  ;  [[#bb0045|9.]]</sup> .       
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Existem 2 tipos de próteses penianas insufláveis de 3 componentes: um tipo desenvolvido pela ''American Medical Systems''  (AMS) e outro pela ''Coloplast Corporation'' . A AMS disponibiliza 3 subtipos de próteses penianas insufláveis de 3 componentes: AMS 700 CX, AMS 700 CXR e AMS 700 LGX, cada uma com especificidades peculiares. A AMS 700 CXR apresenta um menor diâmetro dos cilindros protésicos, estando indicada quando o calibre dos corpos cavernosos é diminuto, frequentemente devido a fibrose, inviabilizando a sua dilatação satisfatória; a AMS 700 LGX permite, em insuflação, expansão adicional do comprimento dos corpos cavernosos, em média 2 cm, factor importante, por exemplo, nos doentes com disfunção eréctil secundária a prostatectomia radical, onde se observa frequentemente uma diminuição do tamanho do pénis. A Coloplast Corporation disponibiliza também 2 tipos de próteses penianas insufláveis: Titan e Titan Narrow Base - a última com características similares à AMS 700 CXR.       
  
O objectivo é avaliar, de forma retrospectiva, os resultados da colocação de esfincteres urinários artificiais AMS 800  no Serviço de Urologia do Centro Hospitalar de São João num período de 6 anos (de Janeiro 2007 a Dezembro 2012).    
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O nosso objectivo é avaliar globalmente os resultados da colocação de próteses penianas insufláveis 3 componentes efectuada no Serviço de Urologia do Centro Hospitalar de São João num período de cinco anos, compreendido entre Janeiro de 2008 e Dezembro de 2012. Além disso, pretendese também comparar os resultados individuais entre os dois tipos de próteses colocadas nesse período (Titan Coloplast e AMS 700).
  
 
==Material e métodos==
 
==Material e métodos==
  
30 doentes do sexo masculino foram submetidos a colocação de EUA AMS 800, com média de idades de 69 anos, no período supracitado. Quanto à gravidade da incontinência urinária (IU), 25 doentes tinham incontinência grave e 5 moderada. Relativamente à etiologia, 26 doentes apresentavam incontinência urinária de esforço (IUE) após prostatectomia radical, um IU mista (esforço após prostatectomia radical e por imperiosidade em contexto de hiperactividade detrusora e baixa compliance vesical), um IUE após prostatectomia por HBP, dois IU neurogénica com concomitante deficiência intrínseca do esfíncter (espinha bífida e mielomeningocelo). 9 doentes haviam colocado ''sling Invance''  prévio sem sucesso, 14 tinham antecedentes de radioterapia prévia, 8 antecedentes de uretrotomia interna por estenose da anastomose vesico-uretral. A média de seguimento pós-operatório foi de 22,1 meses. A média de pensos/dia antes da cirurgia: 5,73.    
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49 doentes foram submetidos a colocação de prótese peniana insuflável 3 componentes no período supracitado: Titan Coloplast em 20 doentes; AMS 700 CX em 28; AMS 700 CXR num). Quanto à etiologia da disfunção eréctil: secundária a prostatectomia radical em 20 doentes; diabetes mellitus em 12; outras causas vasculogénicas (doença cardiovascular, HTA, síndrome metabólica, dislipidémia) em 11; neurogénica periférica (cirurgia colorectal ou cistectomia radical) em 2; doença de Peyronie em 3; priapismo num. Os doentes tinham idade média de 61,3 anos e a média de seguimento dos mesmos após colocação da prótese foi de 19,3 meses. Todos as próteses foram colocadas segundo técnica cirúrgica similar, esquema similar de profilaxia antibiótica e mesmos cuidados no pré, per e pós-operatório. Geralmente procediase ao internamento do doente no dia anterior à cirurgia, fazendo por rotina profilaxia antibiótica endovenosa com cefalosporina do grupo 3a (ceftriaxone). A tricotomia era realizada na sala operatória de forma a prevenir colonização bacteriana nas pequenas escoriações da pele. Precedida à colocação dos campos operatórios, toda a região perineo-escrotal era lavada com uma solução iodada durante 10 a 15 minutos. Na pré-implantação, as próteses com revestimento hidrofílico (Titan Colopast) eram mergulhada em antibiótico diluído em soro fisiológico. Procedimento similar para as próteses AMS 700, apesar de já possuirem impregnação com antibiótico (Inhibizone™). Todas as próteses foram implantadas por via peno-escrotal.
  
 
==Resultados==
 
==Resultados==
  
20 doentes (67%) estão totalmente continentes, não usando qualquer tipo de protecção, 5 doentes (17%) melhorados ou parcialmente continentes (1-2 pensos por dia ou redução > 50% do número de pensos), 5 doentes (17%) sem melhoria (> 3 pensos por dia), sendo que destes, dois são os que têm incontinência de causa neurogénica. Considerando a soma de doentes curados e melhorados, obtém-se uma taxa de sucesso global de 84%. A média de pensos/dia antes e após cirurgia foi, respectivamente, 5,7 e 0,8. Comparando o número de pensos/dia antes e após cirurgia, constata-se que a diferença é estatisticamente significativa (p < 0,05 - teste de Wilcoxon). Existe igualmente variação estatisticamente significativa na redução no número de pensos nos grupos de doentes com antecedentes de ''sling Invance'' , radioterapia pélvica e estenose da anastomose vesico-uretral resolvida previamente com uretrotomia interna (p < 0,05 - teste de Wilcoxon), mas não se observam diferenças estatisticamente significativas quando comparados os grupos entre si (p = 0,09 - teste de Kruskal Wallis).    
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43 doentes (85,7%) têm prótese funcionante sem intercorrências.
  
Quanto às complicações, ocorreu falência mecânica num caso (3%), infecção em 3 (10%) e erosão uretral também em 3 (10%). A taxa de re-operação (revisão ou remoção do EUA) foi de 23%.
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A taxa de satisfação global dos doentes com prótese funcionante é de 93%. No subgrupo dos doentes com prótese Titan Colopast a taxa de satisfação é de 88%, sendo de 95% no subgrupo de doentes com prótese AMS 700.
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Ocorreram as seguintes complicações: 3 casos (6%) de falência mecânica com necessidade de revisão cirúrgica; 3 casos (6%) de infecção e 1 caso (2%) de erosão uretral combinada de infecção, todos com necessidade de remoção da prótese.
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Todas as complicações (infecção e falência mecânica) ocorreram nos doentes com prótese peniana Titan Colopast, ou seja, houve 35% de complicações neste subgrupo. Correlacionando as complicações por subgrupos, verificamos que existem diferenças estatisticamente significativas entre os dois tipos de prótese (p = 0,001 - teste exacto de Fisher). A mediana de seguimento pós-operatório nos dois subgrupos foi, no entanto, substancialmente diferente: 24 meses para o subgrupo da Titan Coloplast e 12 para o da AMS. Fazendo uma análise de sobrevivência através da metodologia de Kaplan-Meier, verificamos que existem diferenças estatisticamente significativas na sobrevivência livre de falência mecânica ou infecção entre os dispositivos protésicos dos dois subgrupos (p = 0,033 - teste Log Rank).
  
 
==Discussão==
 
==Discussão==
  
Face à redução estatisticamente significativa que se verificou no número médio de pensos antes e após cirurgia (respectivamente, 5,7 para 0,8) e ao facto de 84% dos doentes estarem continentes ou significativamente melhorados após a cirurgia (67% sem necessidade de penso; 17% necessidade de 1-2 pensos/dia), podemos inferir que o esfíncter urinário artificial é um tratamento eficaz para a incontinência urinária de esforço masculina.
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Os nossos resultados reproduzem, em termos de satisfação, os valores os encontrados na literatura. As taxas de satisfação são altas<sup>[[#bb0005|1.]] ; [[#bb0020|4.]] ; [[#bb0025|5.]] ; [[#bb0030|6.]] ; [[#bb0035|7.]]  ;  [[#bb0040|8.]]</sup> , tal como verificámos nesta série. 85,7% dos doentes tem prótese funcionantes, sem intercorrências, num tempo de seguimento médio de 19,3 meses, sendo este resultado satisfatório.    
  
Esta taxas de sucesso é consistente com as da literatura.
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No que concerne às complicações, mas especificamente à falência mecânica, cinco estudos com um total de 949 receptores de implante revelam que taxa de ausência de falência mecânica varia de 83,9% (63 meses) para 93,1% (5 anos)<sup>[[#bb0005|1.]]  ;  [[#bb0035|7.]]</sup> . Noutro estudo, a taxa de falência mecânica foi de 12%, com tempos de seguimento similares<sup>[[#bb0020|4.]]  ;  [[#bb0025|5.]]</sup> . Apesar desta diferença, na maior parte dos estudos, as taxa de complicações mecânicas é inferior a 5% aos 5 anos de seguimento[[#bb0005|<sup>1</sup>]] . A nossa taxa de falência mecânica foi de 6% num tempo de seguimento médio de 19,3 meses, portanto ligeiramente maior num menor tempo de seguimento.    
  
A frequência das complicações observadas são também as expectáveis.
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A infecção e a rejeição da prótese representam as mais sérias complicações da cirurgia, tendo uma incidência de 0,8 a 8,9%<sup>[[#bb0045|9.]] ; [[#bb0050|10.]]  ;  [[#bb0055|11.]]</sup> , no entanto, na maioria dos estudos, com técnica cirúrgica apropriada e adequado esquema de profilaxia antibiótica contra agentes Gram positivos e negativos, em doentes de baixo risco, as taxas de infecção são de 2-3%, podendo ser reduzida a 1-2% nos casos de prótese com revestimento hidrofílico ou impregnação antibiótica[[#bb0005|<sup>1</sup>]] . A nossa taxa de complicações infecciosas foi globalmente de 8%, portanto acima dos valores normalmente encontrados. O facto de termos utilizado como profilaxia antibiótica apenas um cefalosporina do grupo 3a, com baixa actividade microbiológica contra estafilococos, e uma vez que a maior parte das infeccções tardias da prótese são devidas a bactérias Gram-positivas, nomeadamente ''Staphylococcus epidermidis'' , poderá ser uma das razões explicativas. Além disso, alguns autores demonstraram que a infecção tardia também pode surgir devido a uma falência mecânica (fuga de fluido) a partir de um dispositivo protésico (Milbank et al, 2004), sendo que este fuga de fluido provavelmente perturba o equilíbrio favorecendo o aparecimento de biofilme e consequente crescimento bacteriano (Silverstein et al, 2003), ou alternativamente, o próprio fluido pode constituir um reservatório de bactérias3. Assim, devemos ter em mente que a nossa taxa de complicações mecânicas tem um valor ligeiramente elevado e, portanto, propicia a uma consequente maior probabilidade de infecção, pelo que este facto poderá ser uma razão explicativa adicional para as taxas elevadas de complicações infecciosas.    
  
Antecedentes de ''sling''  Invance, radioterapia pélvica externa e estenose da anastomose vesico-uretral pós-prostatectomia radical (resolvida com uretrotomia interna prévia à colocação de EUA) não comprometem as taxas de continência, uma vez que se observou redução estatisticamente significativa do número de pensos em cada um desses grupos.       
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Também, na análise comparativa entre os dois tipos de prótese, encontrámos resultados díspares que são dissonantes com os da literatura[[#bb0060|<sup>12</sup>]] . Verificámos que todas as complicações ocorreram nos doentes submetidos a colocação de prótese Titan Colopast, verificando-se neste subgrupo, uma taxa anormalmente elevada de complicações (35%).       
  
As principais limitações continuam a ser: a necessidade de destreza manual e nível cognitivo satisfatório a fim de manusear o esfíncter; a taxa não desprezível de re-intervenção devido a complicações mecânicas e não mecânicas.
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Os motivos plausíveis para esta ocorrência poderão ser: pequena dimensão amostral; menor experiência cirúrgica aquando da colocação das próteses Titan Colopast (uma vez que na nossa série foram as primeiras a ser colocadas), que se foi gradativamente acumulando, tendo resultado num subsequente aperfeiçoamento técnico e melhoria dos resultados; tempo de seguimento bastante mais longo nas próteses Titan Colopast, com consequente maior probabilidade de complicações.
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Por fim, como foi supracitado, faz efectivamente sentido estabelecer algum nexo de causalidade ou correlação entre a elevada taxa de complicações infecciosas e uma possível deficiente profilaxia antibiótica perpetrada na possível ineficiente cobertura de cocos Gram-positivos através do uso singular de ceftriaxone. Porém, o facto de não se ter registado nenhuma complicação infecciosa ou mecânica no sub-grupo de doentes com prótese AMS 700, poderá constituir uma variável de confundimento. Doravante, será, no entanto, de considerar, como profilaxia antibiótica, um esquema de associação com cefalosporina do grupo 2 ou 3a e penicilina ou outro agente estável contra as penicilinases estafilocócicas, tal como recomendado nas ''Guidelines''  da Associação Europeia de Urologia1. Além disso, poder-se-ia alegar que os doentes a quem foram colocadas próteses penianas Titan Colopast teriam presumivelmente maior risco infeccioso, nomeadamente maior frequência de diabetes mellitus com consequentemente maior risco infeccioso, mas a frequência de doentes diabéticos é o exactamente a mesma por subgrupo Titan Coloplast ou AMS 700: 6 (total de 12).    
  
 
==Conclusões==
 
==Conclusões==
  
O EUA é um tratamento eficaz na IUE masculina moderada a grave. Apresenta, no entanto, a limitação da taxa não desprezível de re-intervenção devido a complicações mecânicas e não mecânicas.
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Confirma-se na nossa série que, embora a prótese peniana insuflável 3 componentes seja o tratamento mais invasivo na disfunção eréctil, apresenta uma alta taxa de satisfação global para os doentes, relativamente alta fiabilidade, com uma aceitável taxa de complicações. Obtivemos resultados dissonantes em relação à maior parte dos estudos publicados, consubstanciados numa maior taxa de complicações mecânicas e infecciosas a nível global e comparativo (entre os dois tipos de prótese), para os quais aventámos algumas explicações verosímeis. A crescente experiência do Serviço nesta área, aliada à expectável diminuição progressiva do seu custo e à elevada satisfação global dos doentes, irá traduzir-se, muito provavelmente, ainda em melhores resultados, tornando-se cada vez mais uma indicação segura e mais frequente.
 
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As taxas de sucesso e complicações desta série retrospectiva são consistentes com as da literatura.
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Antecedentes de ''sling'' , RT e estenose da anastomose VU tratada previamente por uretrotomia parecem não comprometer os resultados.    
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==Conflito de interesses==
 
==Conflito de interesses==
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[[#bb0050|10.]] B.B. Garber, S.M. Marcus; Does surgical approach affect the incidence of inflatable penile prosthesis infection?; Urology, 52 (1998), pp. 291–293</li>
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Latest revision as of 09:59, 11 April 2017

Resumo

Introdução : A implantação de prótese peniana insuflável é o tratamento de terceira linha na disfunção eréctil (DE).

Objectivo : Avaliar, de forma retrospectiva e comparativa, os resultados da colocação de próteses penianas insufláveis no Serviço de Urologia do Centro Hospitalar de São João num período de cinco anos (janeiro 2008/dezembro 2012).

Material e métodos : 49 doentes foram submetidos a colocação, por abordagem penoescrotal, de prótese peniana insuflável 3 componentes no período supracitado: Titan Coloplast em 20 doentes; AMS 700 CX em 28; AMS 700 CXR num. Etiologia da disfunção eréctil: secundária a prostatectomia radical em 20 doentes; diabetes mellitus em 12; outras causas vasculogénicas (doença cardiovascular, HTA, síndrome metabólica, dislipidémia) em 11; neurogénica periférica (cirurgia colo-rectal, cistectomia radical) em 2; doença de Peyronie em 3; priapismo num. Os doentes tinham idade média de 61,3 anos e a média de seguimento no pós-operatório foi de 19,3 meses.

Resultados : 43 doentes (85,7%) têm prótese funcionante sem intercorrências. A taxa de satisfação global dos doentes com prótese funcionante é de 93%; nos subgrupos de doentes com prótese Titan Colopast e AMS 700 é, respectivamente, de 88% e 95%. Ocorreram as seguintes complicações: 3 casos (6%) de falência mecânica com necessidade de revisão cirúrgica; 3 casos (6%) de infecção e 1 caso (2%) de erosão uretral combinada de infecção, todos com necessidade de remoção da prótese. Todas as complicações (infecção e falência mecânica) ocorreram nos doentes com prótese peniana Titan Colopast, ou seja, houve 35% de complicações neste subgrupo. Correlacionando as complicações por subgrupos, verificamos que existem diferenças estatisticamente significativas entre os dois tipos de prótese (p = 0,001 - teste exacto de Fisher). A mediana de seguimento pós-operatório nos dois subgrupos foi, no entanto, substancialmente diferente: 24 meses para o subgrupo da Titan Coloplast e 12 para o da AMS. Fazendo uma análise de sobrevivência através da metodologia de Kaplan-Meier, verificamos que existem diferenças estatisticamente significativas na sobrevivência livre de falência mecânica ou infecção entre os dispositivos protésicos dos dois subgrupos (p = 0,033 - teste Log Rank).

Conclusões : A prótese peniana insuflável 3 componentes é um tratamento com alta taxa de satisfação para os doentes, com uma aceitável taxa de complicações. Os nossos resultados mostram uma taxa de complicações global ligeiramente acima dos valores encontrados na literatura. Além disso, na análise comparativa por subgrupos, verifica-se, no subgrupo de doentes com prótese Titan Coloplast, uma taxa anormalmente elevada de complicações (35%), ao invés da ausência de complicações registada no subgrupo dos doentes com prótese AMS 700, sendo este facto dissonante com os demais trabalhos publicados que apontam para resultados e complicações similares entre dos dois tipos de prótese. Os motivos plausíveis para esta ocorrência poderão ser: pequena dimensão amostral; menor experiência cirúrgica aquando da colocação das próteses Titan Colopast, uma vez que na nossa série foram as primeiras a ser colocadas; tempo de seguimento bastante mais longo nas próteses Titan Colopast, com consequente maior probabilidade de complicações.

© 2014 Associação Portuguesa de Urologia. Publicado por Elsevier España, S.L.U. Todos os direitos reservados.

Abstract

Introduction : Inflatable penile prosthesis implantation is the third-line treatment in erectile dysfunction (ED).

Objective : To evaluate, in a retrospective and comparative analysis, the results of the placement of inflatable penile prostheses in the Department of Urology of São João Hospital Center in a five-year period (January 2008/December 2012).

Material and methods : 49 patients underwent placement of inflatable penile prosthesis 3 components through penoscrotal approach during the referred period: Coloplast Titan in 20 patients; AMS 700 CX in 28; AMS 700 CXR in one. Etiology of erectile dysfunction: secondary to radical prostatectomy in 20 patients; diabetes mellitus in 12; other vasculogenic causes (cardiovascular disease, hypertension, metabolic syndrome, dyslipidemia) in 11; peripheral neurogenic (colorectal surgery, radical cystectomy) in 2; Peyronies disease in 3; priapism in one. Patients had a mean age of 61.3 years and the mean postoperative follow-up was 19.3 months.

Results : 43 patients (85.7%) have functioning prosthesis without complications. The overall satisfaction rate of patients with a functioning graft is 93%; in the subgroups of patients with prosthetic Titan Colopast and AMS 700 is, respectively, 88% and 95%. Have occurred the following complications: 3 cases (6%) of mechanical failure with need for surgical revision; 3 cases (6%) of infection and 1 case (2%) of urethral erosion combined with infection, all requiring prosthesis withdrawal. All complications (infection and mechanical failure) occurred in the subgroup of patients with Titan Colopast penile prosthesis, ie, there was 35% of complication rate in this subgroup. Correlating complications by subgroups, we found that there are statistically significant differences between the two types of prosthesis (p = 0.001 - Fishers exact test). The median postoperative follow-up in both groups was, however, substantially different: 24 months for the subgroup of Titan Coloplast subgroup and 12 for the AMS. Making an analysis of survival by Kaplan- Meier methodology, we found that there are statistically significant differences in survival free of mechanical failure or infection of prosthetic devices among the two subgroups (p = 0.033 - Log Rank test).

Conclusions : The implantation of 3 components inflatable penile prosthesis is a treatment with a high rate of satisfaction for patients, with an acceptable complication rate. Our results show an overall complication rate slightly above the values found in the literature. Furthermore, in comparative analysis by subgroup, the subgroup of patients with Titan Colopast prosthesis has an abnormally high rate of complications (35%), rather than the absence of complications recorded in the subgroup of patients with AMS 700 prosthesis - this fact is dissonant with other published studies that point to similar results and complications between the two types of prosthesis. The plausible reasons for this occurrence may be: small sample size; less surgical experience during the placement of the Titan Colopast prosthesis, since in our series were the first to be placed; significantly longer follow-up Titan Colopast prosthesis, with consequently greater likelihood of complications.

© 2014 Associação Portuguesa de Urologia. Published by Elsevier España, S.L.U. All rights reserved.

Palavras-Chave

Prótese peniana insuflável ; AMS 700 ; Titan Coloplast

Keywords

Inflatable penile prosthesis ; AMS 700 ; Titan Coloplast

Introdução

A erecção peniana normal é um fenómeno neurovascular. A disfunção eréctil (DE) resulta do compromisso deste fenómeno, designadamente em doentes com factores de risco cardiovasculares (síndrome metabólica, hipercolesterolémia, obesidade, sedentarismo, tabagismo), submetidos a prostatectomia radical, presença de diabetes mellitus, causas neurogénicas múltiplas (centrais ou periféricas), etc. As opções terapêuticas actuais no tratamento da DE comportam os tratamentos farmacológicos (medicamentos orais - inibidores da PDE-5; prostaglandinas intracavernosas e intra-uretrais) e os tratamentos não farmacológicos (terapia sexual, dispositivos de erecção por vácuo, implantação de próteses penianas e cirurgia vascular peniana).

A implantação de prótese peniana insuflável é o tratamento de terceira linha na disfunção eréctil (DE)1.  ;  2. . Está indicada quando não se obtém resposta ao tratamento farmacológico de primeira e segunda linhas e nos doentes que preferem uma solução definitiva para o seu problema.

Estão disponíveis, actualmente, duas classes de próteses penianas: insufláveis de 2 ou 3 componentes e semi-rígidas.3.  ;  4.

As mais frequentemente usadas, e que a maioria dos doentes prefere, são as insufláveis de 3 peças ou componentes, uma vez que são as que permitem obter erecções mais “naturais”, ou seja, maiores similitudes na alternância entre o normal estado de flacidez e erecção penianas.

Apenas os dispositivos insufláveis de três peças apresentam um reservatório separado colocado na cavidade abdominal, permitindo a erecção através da transferência de um grande volume de líquido do reservatório para os cilindros protésicos penianos e o retorno à flacidez através da transferência inversa.

Existem 2 tipos de próteses penianas insufláveis de 3 componentes: um tipo desenvolvido pela American Medical Systems (AMS) e outro pela Coloplast Corporation . A AMS disponibiliza 3 subtipos de próteses penianas insufláveis de 3 componentes: AMS 700 CX, AMS 700 CXR e AMS 700 LGX, cada uma com especificidades peculiares. A AMS 700 CXR apresenta um menor diâmetro dos cilindros protésicos, estando indicada quando o calibre dos corpos cavernosos é diminuto, frequentemente devido a fibrose, inviabilizando a sua dilatação satisfatória; a AMS 700 LGX permite, em insuflação, expansão adicional do comprimento dos corpos cavernosos, em média 2 cm, factor importante, por exemplo, nos doentes com disfunção eréctil secundária a prostatectomia radical, onde se observa frequentemente uma diminuição do tamanho do pénis. A Coloplast Corporation disponibiliza também 2 tipos de próteses penianas insufláveis: Titan e Titan Narrow Base - a última com características similares à AMS 700 CXR.

O nosso objectivo é avaliar globalmente os resultados da colocação de próteses penianas insufláveis 3 componentes efectuada no Serviço de Urologia do Centro Hospitalar de São João num período de cinco anos, compreendido entre Janeiro de 2008 e Dezembro de 2012. Além disso, pretendese também comparar os resultados individuais entre os dois tipos de próteses colocadas nesse período (Titan Coloplast e AMS 700).

Material e métodos

49 doentes foram submetidos a colocação de prótese peniana insuflável 3 componentes no período supracitado: Titan Coloplast em 20 doentes; AMS 700 CX em 28; AMS 700 CXR num). Quanto à etiologia da disfunção eréctil: secundária a prostatectomia radical em 20 doentes; diabetes mellitus em 12; outras causas vasculogénicas (doença cardiovascular, HTA, síndrome metabólica, dislipidémia) em 11; neurogénica periférica (cirurgia colorectal ou cistectomia radical) em 2; doença de Peyronie em 3; priapismo num. Os doentes tinham idade média de 61,3 anos e a média de seguimento dos mesmos após colocação da prótese foi de 19,3 meses. Todos as próteses foram colocadas segundo técnica cirúrgica similar, esquema similar de profilaxia antibiótica e mesmos cuidados no pré, per e pós-operatório. Geralmente procediase ao internamento do doente no dia anterior à cirurgia, fazendo por rotina profilaxia antibiótica endovenosa com cefalosporina do grupo 3a (ceftriaxone). A tricotomia era realizada na sala operatória de forma a prevenir colonização bacteriana nas pequenas escoriações da pele. Precedida à colocação dos campos operatórios, toda a região perineo-escrotal era lavada com uma solução iodada durante 10 a 15 minutos. Na pré-implantação, as próteses com revestimento hidrofílico (Titan Colopast) eram mergulhada em antibiótico diluído em soro fisiológico. Procedimento similar para as próteses AMS 700, apesar de já possuirem impregnação com antibiótico (Inhibizone™). Todas as próteses foram implantadas por via peno-escrotal.

Resultados

43 doentes (85,7%) têm prótese funcionante sem intercorrências.

A taxa de satisfação global dos doentes com prótese funcionante é de 93%. No subgrupo dos doentes com prótese Titan Colopast a taxa de satisfação é de 88%, sendo de 95% no subgrupo de doentes com prótese AMS 700.

Ocorreram as seguintes complicações: 3 casos (6%) de falência mecânica com necessidade de revisão cirúrgica; 3 casos (6%) de infecção e 1 caso (2%) de erosão uretral combinada de infecção, todos com necessidade de remoção da prótese.

Todas as complicações (infecção e falência mecânica) ocorreram nos doentes com prótese peniana Titan Colopast, ou seja, houve 35% de complicações neste subgrupo. Correlacionando as complicações por subgrupos, verificamos que existem diferenças estatisticamente significativas entre os dois tipos de prótese (p = 0,001 - teste exacto de Fisher). A mediana de seguimento pós-operatório nos dois subgrupos foi, no entanto, substancialmente diferente: 24 meses para o subgrupo da Titan Coloplast e 12 para o da AMS. Fazendo uma análise de sobrevivência através da metodologia de Kaplan-Meier, verificamos que existem diferenças estatisticamente significativas na sobrevivência livre de falência mecânica ou infecção entre os dispositivos protésicos dos dois subgrupos (p = 0,033 - teste Log Rank).

Discussão

Os nossos resultados reproduzem, em termos de satisfação, os valores os encontrados na literatura. As taxas de satisfação são altas1. ; 4. ; 5. ; 6. ; 7.  ;  8. , tal como verificámos nesta série. 85,7% dos doentes tem prótese funcionantes, sem intercorrências, num tempo de seguimento médio de 19,3 meses, sendo este resultado satisfatório.

No que concerne às complicações, mas especificamente à falência mecânica, cinco estudos com um total de 949 receptores de implante revelam que taxa de ausência de falência mecânica varia de 83,9% (63 meses) para 93,1% (5 anos)1.  ;  7. . Noutro estudo, a taxa de falência mecânica foi de 12%, com tempos de seguimento similares4.  ;  5. . Apesar desta diferença, na maior parte dos estudos, as taxa de complicações mecânicas é inferior a 5% aos 5 anos de seguimento1 . A nossa taxa de falência mecânica foi de 6% num tempo de seguimento médio de 19,3 meses, portanto ligeiramente maior num menor tempo de seguimento.

A infecção e a rejeição da prótese representam as mais sérias complicações da cirurgia, tendo uma incidência de 0,8 a 8,9%9. ; 10.  ;  11. , no entanto, na maioria dos estudos, com técnica cirúrgica apropriada e adequado esquema de profilaxia antibiótica contra agentes Gram positivos e negativos, em doentes de baixo risco, as taxas de infecção são de 2-3%, podendo ser reduzida a 1-2% nos casos de prótese com revestimento hidrofílico ou impregnação antibiótica1 . A nossa taxa de complicações infecciosas foi globalmente de 8%, portanto acima dos valores normalmente encontrados. O facto de termos utilizado como profilaxia antibiótica apenas um cefalosporina do grupo 3a, com baixa actividade microbiológica contra estafilococos, e uma vez que a maior parte das infeccções tardias da prótese são devidas a bactérias Gram-positivas, nomeadamente Staphylococcus epidermidis , poderá ser uma das razões explicativas. Além disso, alguns autores demonstraram que a infecção tardia também pode surgir devido a uma falência mecânica (fuga de fluido) a partir de um dispositivo protésico (Milbank et al, 2004), sendo que este fuga de fluido provavelmente perturba o equilíbrio favorecendo o aparecimento de biofilme e consequente crescimento bacteriano (Silverstein et al, 2003), ou alternativamente, o próprio fluido pode constituir um reservatório de bactérias3. Assim, devemos ter em mente que a nossa taxa de complicações mecânicas tem um valor ligeiramente elevado e, portanto, propicia a uma consequente maior probabilidade de infecção, pelo que este facto poderá ser uma razão explicativa adicional para as taxas elevadas de complicações infecciosas.

Também, na análise comparativa entre os dois tipos de prótese, encontrámos resultados díspares que são dissonantes com os da literatura12 . Verificámos que todas as complicações ocorreram nos doentes submetidos a colocação de prótese Titan Colopast, verificando-se neste subgrupo, uma taxa anormalmente elevada de complicações (35%).

Os motivos plausíveis para esta ocorrência poderão ser: pequena dimensão amostral; menor experiência cirúrgica aquando da colocação das próteses Titan Colopast (uma vez que na nossa série foram as primeiras a ser colocadas), que se foi gradativamente acumulando, tendo resultado num subsequente aperfeiçoamento técnico e melhoria dos resultados; tempo de seguimento bastante mais longo nas próteses Titan Colopast, com consequente maior probabilidade de complicações.

Por fim, como foi supracitado, faz efectivamente sentido estabelecer algum nexo de causalidade ou correlação entre a elevada taxa de complicações infecciosas e uma possível deficiente profilaxia antibiótica perpetrada na possível ineficiente cobertura de cocos Gram-positivos através do uso singular de ceftriaxone. Porém, o facto de não se ter registado nenhuma complicação infecciosa ou mecânica no sub-grupo de doentes com prótese AMS 700, poderá constituir uma variável de confundimento. Doravante, será, no entanto, de considerar, como profilaxia antibiótica, um esquema de associação com cefalosporina do grupo 2 ou 3a e penicilina ou outro agente estável contra as penicilinases estafilocócicas, tal como recomendado nas Guidelines da Associação Europeia de Urologia1. Além disso, poder-se-ia alegar que os doentes a quem foram colocadas próteses penianas Titan Colopast teriam presumivelmente maior risco infeccioso, nomeadamente maior frequência de diabetes mellitus com consequentemente maior risco infeccioso, mas a frequência de doentes diabéticos é o exactamente a mesma por subgrupo Titan Coloplast ou AMS 700: 6 (total de 12).

Conclusões

Confirma-se na nossa série que, embora a prótese peniana insuflável 3 componentes seja o tratamento mais invasivo na disfunção eréctil, apresenta uma alta taxa de satisfação global para os doentes, relativamente alta fiabilidade, com uma aceitável taxa de complicações. Obtivemos resultados dissonantes em relação à maior parte dos estudos publicados, consubstanciados numa maior taxa de complicações mecânicas e infecciosas a nível global e comparativo (entre os dois tipos de prótese), para os quais aventámos algumas explicações verosímeis. A crescente experiência do Serviço nesta área, aliada à expectável diminuição progressiva do seu custo e à elevada satisfação global dos doentes, irá traduzir-se, muito provavelmente, ainda em melhores resultados, tornando-se cada vez mais uma indicação segura e mais frequente.

Conflito de interesses

Os autores declaram não haver conflito de interesses.

Bibliografia

  1. 1. E. Wespes, I. Eardley, F. Giuliano, et al.; European Association of Urology. Guidelines on male sexual dysfunction: erectile dysfunction and premature ejaculation; Eur Urol. (2013) 978-90-79754-71-7
  2. 2. N.M. Pereira, (coord); Consensus 06 - Consenso Português para avaliação e tratamento da Disfunção Eréctil.; Sociedade Portuguesa de Andrologia, Lisboa (2006), p. 84 Ed.
  3. 3. J. Wein Alan, R. Kavoussi Louis, C. Novick Andrew, et al.; Campbell-Walsh Urology; (Tenth Edition) (2012), pp. 781–792 Chapter 27
  4. 4. C. Bettocchi, F. Palumbo, M. Spilotros, et al.; Penile prosthesis implant: when, what and how; JMH., 6 (2009), pp. 299–306
  5. 5. C.C. Carson, J.J. Mulcahy, F.E. Govier; Efficacy, safety and patient satisfaction outcomes of the AMS 700CX inflatable penile prosthesis: results of a long-term multicenter study; AMS 700CX Study Group. J Urol., 164 (2000), pp. 376–380
  6. 6. J.P. Mulhall, A. Ahmed, J. Branch, et al.; Serial assessment of efficacy and satisfaction profiles following penile prosthesis surgery; J Urol., 169 (2003), pp. 1429–1433
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Published on 11/04/17

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